“Uma política definida debaixo para cima”. “Um projeto desenhado dentro do gabinete”. Essas são frases comuns de se ouvir quando recebemos orientações e diretrizes educacionais. Isso porque, não é raro, elas pouco parecem dialogar com a realidade das escolas e seus atores. Inverter a lógica e garantir o envolvimento de gestores, professores, funcionários, estudantes e seus responsáveis é o melhor caminho para se elaborar um plano de gestão que considere os contextos locais, inclua conhecimentos diversos e, consequentemente, conte com a adesão da comunidade.
Um instrumento muito potente para isso são os Indicadores de Qualidade na Educação, da organização Ação Educativa, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e com o Ministério da Educação (MEC). Eles foram criados com o objetivo principal de ajudar a comunidade escolar a avaliar e melhorar a qualidade da escola, compreendendo seus pontos fortes e fracos a fim de melhorar a oferta do seu atendimento, conforme seus próprios critérios e prioridades, e com o apoio da Secretaria.
A coleção conta com os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil, Indicadores da Qualidade no Ensino Fundamental, Indicadores de Qualidade no Ensino Médio e os Indicadores da Qualidade nas Relações Raciais na Escola, que tem também um volume específico para a Educação Infantil.
Este instrumento se caracteriza pela forma simples e acessível de usá-lo. Em cada um deles, é definido um grupo de dimensões. Com base em cada dimensão são definidos alguns indicadores e para cada indicador um conjunto de perguntas.
Vamos ver o exemplo dos Indicadores de Qualidade da Educação – Ensino Fundamental. Para ele, foram definidas 7 dimensões:
- Ambiente educativo
- Prática pedagógica e avaliação
- Ensino e aprendizagem da leitura e da escrita
- Gestão escolar democrática
- Formação e condições de trabalho dos profissionais da escola
- Acesso e permanência dos alunos na escola
- Ambiente físico escolar
Vamos selecionar a Dimensão 3: Ensino e aprendizagem da leitura e da escrita e ver os indicadores propostos:
- Orientações para a alfabetização inicial implementada
- Existência de práticas alfabetizadoras na escola
- Atenção ao processo de alfabetização de cada criança
- Ampliação das capacidades de leitura e escrita dos alunos ao longo do Ensino Fundamental
- Acesso e bom aproveitamento da biblioteca, salas de leitura e sala de aula, dos equipamentos de informática e da internet
- Existência de ações integradas entre a escola e toda a rede de ensino para favorecer a aprendizagem da leitura e da escrita
Agora, vamos ver as perguntas relacionadas ao Indicador 2: Existência de práticas alfabetizadoras na escola:
2.1. Existência de práticas alfabetizadoras na escola
2.2. O professor lê livros para as crianças pelo menos uma vez por dia?
2.3. As crianças participam diariamente de atividades planejadas para a aprendizagem progressiva do funcionamento do sistema da escrita?
2.4. Os alunos participam, pelo menos semanalmente, de projetos ou atividades
nas quais podem conhecer e exercitar os diferentes usos da leitura e da escrita
no dia a dia?
2.5. Os professores desenvolvem atividades para ajudar os estudantes na
compreensão e na interpretação dos textos lidos?
2.6. A escola valoriza os textos elaborados pelos alunos?
2.7. A rotina semanal contempla atividades diversificadas como leitura, trabalho
em grupo, roda de história, leitura compartilhada e desenvolvimento de projetos?
Vale dizer que para cada uma dessas perguntas ainda há exemplos de como isso pode acontecer. No caso da pergunta 2.6, veja as sugestões:
- Exemplos de como os professores podem valorizar os textos elaborados pelos alunos.
- Valorizar igualmente as produções de todos os alunos, mostrando o trabalho de cada um para toda a turma.
- Fazer exposições dos trabalhos em murais e varais fora e dentro da sala de aula.
- Incentivar os alunos a apreciar o resultado de seus trabalhos após os comentários gerais.
- Estar pronto a ajudar quando é chamado, demonstrando sua confiança no aluno.
- Fazer comentários positivos em relação à produção de todos.
- Promover feiras na escola para a exposição e a divulgação das produções.
- Valorizar o modo de falar das crianças, nos textos escritos e falados, explicando as distintas funções da norma culta e da norma popular.
As perguntas, como vimos, referem-se a ações, atitudes ou situações que mostram como está a escola em relação ao tema abordado pelo indicador. Cada pergunta deve ser discutida pelo grupo e receber uma cor: verde, amarelo ou vermelho. Caso o grupo avalie que essas ações, atitudes ou situações estão consolidadas na escola, a cor a ser atribuída é verde, apontando que o processo de melhoria da qualidade já está em um bom caminho. Já, se na escola, elas ocorrem de vez em quando, mas não podem ser consideradas recorrentes ou consolidadas, a cor é a amarela, indicando, assim, tratar-se de uma situação que merece mais cuidado e atenção. E, caso o grupo avalie que as ações são inexistentes ou quase inexistentes na escola, a cor é a vermelha, demonstrando que, nesses casos, a intervenção precisa ser imediata.
- Criação de um grupo coordenador na escola, composto pelos diversos segmentos da comunidade: Este grupo será responsável pela organização das demais fases da autoavaliação (prevendo locais, materiais, meios de mobilizar a comunidade etc.)
- Mobilização da comunidade escolar: A mobilização das equipes técnicas, dos docentes, funcionários, alunos e seus familiares, da comunidade do entorno, membros de conselhos municipais, entre outros, permite que diversos atores opinem e discutam o conceito de qualidade educativa trazendo observações pertinentes ao dia a dia da vida escolar e expondo expectativas em relação ao futuro da educação no município/estado.
- Dia da avaliação: Este é o momento da realização da autoavaliação participativa propriamente dita, que deve contar com a participação dos vários segmentos que compõem a comunidade escolar. Sugere-se uma preparação prévia do processo, organizada pelo grupo coordenador.
Obs.: Ao final do dia da avaliação é importante que uma comissão seja eleita para elaborar o plano de ação que implementará as ações necessárias e definidas no processo de autoavaliação participativa. Essa comissão também deve ser composta por representantes de todos os segmentos que participaram do processo. - Elaboração do plano de ação: O plano de ação deve sistematizar as discussões ocorridas durante o processo de autoavaliação e propor encaminhamentos e/ou ações para melhoria dos indicadores considerados problemáticos na escola.
- Monitoramento: Ao final do dia da avaliação é importante que uma comissão seja eleita para elaborar o plano de ação que implementará as ações necessárias e definidas no processo de autoavaliação participativa. Essa comissão deve ser composta por representantes de todos os segmentos que participaram do processo.
Um processo participativo e democrático como esse contribui, inclusive, nas definições dos Planos de Educação, tema sobre o qual abordaremos no próximo post. E, caso você implemente os Indicadores de Qualidade na Educação não deixe de contar para gente por meio do e-mail: adm@institutomaxfabiani.org.br
Até a próxima!
¹Fonte: indicadoreseducacao.org.br
